É assim que se compete?

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O aumento de impostos para os rivais asiáticos pode até dar um fôlego para as montadoras instaladas no Brasil. Mas em algum momento – e logo – elas terão de mudar a forma de produzir carrosRaquel Salgado




“Não é uma medida protecionista. Ela estimula investimentos locais em tecnologia” –Guido Mantega, ministro da fazenda




Durante 40 anos, as quatro maiores montadoras instaladas no Brasil – Volks, Fiat, GM e Ford – dominaram completamente as vendas de automóveis. A vida começou a ficar um pouco mais complicada no início dos anos 90, quando o ex-presidente Fernando Collor de Mello chamou seus produtos de carroças e deu início ao processo de abertura da economia brasileira. Ao longo dos anos, a competição foi crescendo. De participação de mercado total, essas empresas passaram para 87% em 2002. Hoje, ela está em 73%. E, em cinco anos, deverá cair para 60%, segundo a consultoria Roland Berger.


Essa perda expressiva pode ser explicada, em grande parte, pelo sucesso dos carros asiáticos. Não é um fenômeno brasileiro, é um movimento global. Os japoneses foram os primeiros, nos anos 70, a incomodar empresas americanas e europeias. Em duas décadas, haviam conquistado espaço e passaram a ser sinônimo de qualidade e alta tecnologia. Depois vieram os coreanos. Levaram a metade do tempo para conquistar seu quinhão. Agora, vêm os chineses – e analistas acreditam que eles trilharão o caminho dos seus pares orientais em apenas cinco anos.


A preocupação com essa concorrência é tão grande que criou uma espécie de companheirismo onde antes havia disputas figadais. E uma xenofobia curiosa, porque as montadoras nacionais são, como todos sabem, estrangeiras: duas americanas, uma alemã e uma italiana. Apenas por estarem há muito tempo no Brasil, e por terem produção local (com muitos funcionários brasileiros), são tratadas como brasileiras, por seus pares e, mais importante, pelo governo.


Pois foi esse grupo de “nacionais” que decidiu acelerar rumo a Brasília em busca de um repeteco das medidas de 2008, quando a crise mundial ameaçava bater aqui: alívio na carga de impostos. Para estimular a economia, o governo reduziu o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), chegando a zerá-lo para carros 1.0, e também abrandou o Imposto sobre Operações Financeiras, o IOF, para estimular novos financiamentos. Desta vez, porém, o governo não estava disposto a abrir mão de receita. Não sem contrapartidas. Daí surgiu a ideia de que a diminuição do IPI fosse incluída no plano Brasil Maior, voltado à política industrial – desde que as montadoras se comprometessem a aumentar o investimento em pesquisa no país, melhorar a eficiência energética dos carros e usar mais componentes nacionais nos automóveis.


A MURALHA DO BRASIL


Usar mais componentes produzidos aqui não era um grande problema para Volks, Fiat, GM e Ford, que já têm um percentual alto de peças locais em seus carros. Quem reclamou desse ponto foram Citroën, Renault e as japonesas Toyota e Nissan, grandes importadoras de peças. Quanto à eficiência energética e ao aumento de verbas para pesquisa, as negociações não avançaram. Houve outro entrave: nenhuma quis se comprometer a repassar uma eventual redução de imposto ao preço final do carro.


O acordo estava prestes a fracassar. Foi então que surgiu uma solução “criativa”, no dizer do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante: em vez de reduzir o IPI de quem atendesse a certas exigências, por que não aumentar o dos outros? E assim saiu a medida que eleva o IPI de todos os veículos que não tiverem, no mínimo, 65% de componentes nacionais ou regionais (fabricados nos países do Mercosul) e exige que as montadoras invistam 0,5% do faturamento em pesquisa e desenvolvimento no Brasil. Os carros que não se encaixarem nessas regras e forem 1.0 vão ter o IPI elevado de 7% para 37%. Para os acima de 1.0 até 2.0, a alíquota passa de 11% para 41%. Nos veículos acima de 2.0, a alta é de 25% para 55%. “Isso não aumentará a competitividade e ainda vai contra a soberania do mercado e os desejos da sociedade”, diz Paulo Cardamone, diretor da consultoria IHS Automotive.



Pegou mal Europa, China, Coreia, Japão e EUA ficaram surpresos com o aumento de IPI. E ameaçaram se unir contra o Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC)




Os veículos do México ou do Mercosul não serão afetados pela nova regra, porque são trazidos por montadoras instaladas no país. Não se sabe, contudo, como o governo fiscalizará o cumprimento dessas exigências. A medida atingiu em cheio os carros importados da Ásia – e o bolso dos consumidores brasileiros, pois esses produtos devem ficar de 25% a 28% mais caros assim que o aumento de impostos passar a valer.


A chinesa Chery e outros importadores entraram na Justiça para pedir que a nova alíquota passe a valer somente 90 dias após a publicação do decreto. A Constituição Federal prevê que qualquer alteração tributária só pode entrar em vigor após esse período.


Essa elevação reduzirá a competitividade dos automóveis importados, mas por um pequeno espaço de tempo – a medida expira em dezembro de 2012. Além disso, o decreto, publicado no dia 16 de setembro, pode cair por terra, já que é passível de questionamento na Organização Mundial do Comércio (OMC). Ao usar o IPI para dificultar a entrada de importados no país, o governo tomou uma medida protecionista lançando mão do instrumento errado. “O único tributo que pode ser usado para regular as importações é o Imposto de Importação”, diz Ana Cláudia Utumi, sócia responsável pela área tributária do escritório de advocacia TozziniFreire.


As montadoras que estão por aqui vão ganhar tempo. Mas a concorrência estrangeira não desaparecerá. Ao contrário. No segundo semestre de 2012, a coreana Hyundai começa a produzir automóveis na cidade de Piracicaba, em São Paulo. Como não deve atingir, no início, o índice de 65% de nacionalização, o mais provável é que a montadora tente um acordo com o governo para uma redução provisória da alíquota do IPI. Caso contrário, ficará caro demais produzir aqui e ainda ter de pagar mais imposto. Já a Chery vai construir sua planta também no interior paulista, em Jacareí. A JAC Motors, apesar de ameaçar desistir de seu plano de investimentos no país por conta da alteração nas alíquotas, dificilmente irá virar as costas para um mercado promissor como é o brasileiro.


VISÃO CHINESA


É provável que, ao fabricar no Brasil, chineses e coreanos percam parte das vantagens financeiras e econômicas que lhes conferem vantagem competitiva. Com uma legislação trabalhista mais flexível, custos de mão de obra um quarto dos brasileiros, menos burocracia, mais escala, insumos mais baratos e nenhum pudor de copiar tecnologias alheias (ver quadro ao lado), os chineses realizaram o que pode parecer uma missão impossível. Construíram carros bem equipados, bonitos – nem que seja apenas pelo lado de fora – e cerca de um terço mais baratos do que os concorrentes nacionais.


Mas sua vantagem não está só aí. Eles enxergaram também uma mudança na forma como o consumidor escolhe um automóvel. Nos países emergentes, boa parte dos novos compradores quer pagar pouco e ter o maior número possível de equipamentos: bluetooth, computador de bordo, ar-condicionado, direção hidráulica... Nem que para isso tenha de abrir mão de algum conforto e ter alguma dor de cabeça na hora de achar uma concessionária ou perder mais dinheiro ao revender o veículo. Isso ajuda a explicar por que o J3, carro da chinesa JAC Motors, tem sido tão procurado no Brasil. Seus consumidores são mais jovens que a média do comprador brasileiro, com mais renda e maior escolaridade, que querem ter um carro completo (o J3 tem, inclusive, freios ABS e air bag) por um preço mais acessível. Ainda que passem a lidar com o famoso “custo Brasil”, a forma de pensar o mercado automotivo continuará sendo uma vantagem competitiva para os chineses.


Antes de contar com o auxílio de Brasília para barrar os chineses, a única saída para as montadoras nacionais estava sendo bem dolorosa: reduzir margem de lucro. Em maio, por exemplo, dois meses após o lançamento do J3, da JAC, a Ford reduziu o preço do Fiesta Rocan hatch completo de R$ 42 mil para R$ 37,9 mil. Era um desconto de 10%, para ficar com o preço exato do J3 hatch. Hoje, são comuns os anúncios que prometem maiores descontos para carros mais equipados, como os feitos recentemente pela Volks.





LÁ TAMBÉM TEM PROTECIONISMO O governo chinês só permite que montadoras estrangeiras se instalem no país se fizerem joint ventures com as empresas locais








UM NOVO MODELO


“O Brasil é um mercado que se presta como um grande laboratório para os chineses, porque não é tão grande quanto o americano ou o europeu, e tem um perfil de baixa renda, com muita gente ainda por comprar seu primeiro carro”, diz Rogelio Golfarb, diretor de assuntos corporativos e governamentais da Ford. Para Golfarb, as condições brasileiras contribuem para a perda de competitividade da indústria local, porque o país opera com altas taxas de juros, com alta carga de impostos sobre a produção e com uma legislação trabalhista defasada. Ou seja, produzir aqui ficou muito caro.


É por isso, também, que 70% da importação de carros é feita pelas quatro grandes montadoras. Elas trazem automóveis de suas fábricas no México e na Argentina, onde a produção é mais em conta. Isso significa que a maior parte do déficit da balança comercial do setor – que preocupa o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (ele chegou a reclamar da “invasão chinesa” com amigos próximos) é causada pelas empresas nacionais.


Para ser mais competitivas, terão de mudar. Já há alguns sinais dessa mudança. A expectativa é que, em 2014, as quatro maiores, mais Peugeot e Renault, lancem novos carros de entrada: compactos, completos, custando até R$ 30 mil. A Fiat prepara a produção de um automóvel desse tipo na nova fábrica que erguerá na cidade de Goiana, em Pernambuco. A Volks planeja trazer para o Brasil o Up!, sucesso na Europa. É uma tentativa de, se não ganhar, evitar maiores perdas de mercado. Mas vai ser preciso fazer mais. “Se não automatizarem mais a produção, aumentarem a eficiência e a produtividade das fábricas e inovarem, vai ser praticamente impossível não perder mercado”, diz Letícia Costa, coordenadora do Centro de Pesquisas em Estratégia do Insper.


Hoje são raros os projetos desenvolvidos especificamente para o Brasil, como o novo Uno, da Fiat, e o EcoSport, da Ford. O que elas sempre fizeram foi adaptar (ou simplificar) modelos lançados dez, 15 anos atrás nos países desenvolvidos. A chegada de compactos em 2014 vai nesse caminho. “Vai ser preciso mudar essa lógica. As empresas precisam desenvolver um carro para o Brasil que depois possa ser vendido, mais simples e barato, na Indonésia, na Índia ou em países da África Central”, diz Stephan Keese, um alemão sócio da consultoria Roland Berger que já trabalhou em grandes empresas do setor.


Keese conta que o presidente mundial de uma grande montadora admitiu que eles têm falhado em desenvolver um automóvel mais barato. “Sempre sai algo premium, porque a forma de conceber o produto é essa, com altos padrões de qualidade.” A vantagem: um carro alemão ou americano dificilmente será reprovado num teste de colisão. Não se pode dizer o mesmo dos chineses. A Shenyang Brilliance Jinbei, fabricante da van Topic, teve um de seus modelos de luxo reprovado em um teste feito na Alemanha. Mas, pelo ritmo de crescimento e de investimento das montadoras chinesas, reverter isso é questão de tempo. Pouco tempo.






Fonte: Epoca Negócio

MP 540 deve ajudar as empresas de TI a banirem a PJ

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A Medida Provisória pode acabar com as vantagens do trabalho informal no setorCarlos Rydlewski



Trabalhadores do setor de TI: nova MP deve garantir a carteira assinada para todos


A Medida Provisória 540 é um saco de gatos. Versa sobre quase tudo. Reduz o IPI da indústria automobilística, permite o uso de recursos do FGTS em obras da Copa de 2014 e autoriza a publicidade institucional de fabricantes de cigarros. Embora bombardeada por políticos da oposição, foi aprovada na última semana no Congresso. Agora, aguarda sanção da presidente Dilma Roussef — o que pode ocorrer até 14 de dezembro. No setor de Tecnologia da Informação (TI), contudo, a MP recebeu um adjetivo contundente: revolucionária. “Ela vai desonerar as empresas e acabar com as vantagens do trabalho informal no setor”, diz Antônio Gil, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom).


A MP, na prática, muda a maneira pela qual as companhias de TI pagam o INSS. Hoje, elas recolhem 20% do valor da folha salarial como contribuição previdenciária. Esse percentual é cobrado caso os negócios estejam crescendo ou não. Com a MP 540, as empresas vão recolher uma alíquota de 2,5% sobre o faturamento. Assim, um custo fixo (os 20% sobre a folha) será transformado em variável. Para as empresas, a economia será significativa. Cálculos da Brasscom indicam que o setor deixará de recolher R$ 1 bilhão por ano, sendo que, se sancionada, a MP 540 deve vigorar até 2014. Ou seja, pelo menos R$ 3 bilhões em três anos.


Com a MP 540, as empresas vão recolher uma alíquota de 2,5% sobre o faturamento. Assim, um custo fixo (os 20% sobre a folha) será transformado em variável




E o governo vai dizer adeus para essa bolada? Em tese, não. A ideia é que ele seja recompensado de outra maneira. Ao desonerar a folha de pagamentos, Gil acredita que o número de empregos formais na área de TI aumentará de maneira expressiva. Hoje, o segmento tem 1,2 milhão de trabalhadores. Ocorre que metade desse contingente é recrutado por meio de um subterfúgio cada vez mais em voga. Em vez de contratar essas pessoas pelo regime da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), como obriga a lei, as companhias as incorporam como pessoas jurídicas, os “PJs”. A Brasscom prevê que, com a medida provisória, 80% dos empregos informais serão regularizados. “Com isso, o governo vai recolher, por exemplo, mais Imposto de Renda”, diz Gil. “O governo, no fim das contas, vai sair no lucro.”


O presidente da Brasscom acredita que as concorrências no setor de TI serão mais éticas. “Hoje, muitas empresas se valem das vantagens de contratar uma pessoa jurídica, cujo custo final é menor, para oferecer um produto mais barato no mercado”, afirma. “Essa vantagem vai terminar. As companhias competirão em igualdade de condições.” Francisco Blagevith, presidente da Asyst International, especializada em serviços de Help Desk, antevê benefícios caso a MP 540 seja sancionada. “Eu sempre contratei meus funcionários pela CLT e tinha um custo fixo pesado”, diz o empresário. “Por isso, perdi várias disputas no mercado.”


No fim das contas, que não são poucas, Gil considera que todo o setor vai se beneficiar com a eventual aprovação da medida provisória. “Muitas companhias tinham um passivo trabalhista tão grande por contratar PJs que não podiam ser vendidas ou mesmo abrir o capital na bolsa”, afirma. “Isso fragiliza as integrantes do setor que ficam sem capacidade de investir em áreas como inovação.” Blagevith, da Asyst, usa uma imagem para definir o tamanho da encrenca que esses passivos representam no segmento: “Existe um elefante sentado no meio da sala de estar das pessoas e elas fingem que ele não está lá.”


A MP 540, caso sancionada, pode ser vista ainda como um teste. A mesma regra aplicada ao setor de TI também alcançará outros segmentos como o de transportes urbanos, calçados e confecções. A diferença fica por conta da alíquota que incidirá sobre o faturamento das empresas (ela varia de 1,5% a 2,5%). Se tudo der certo, e há várias condicionantes, a medida servirá como um ensaio para um novo modelo de financiamento da Previdência, com desoneração da indústria. E isso, em se tratando de Brasil, está longe de ser pouco.


Fonte: EpocaNegocios

Quer empreender? Apaixone-se e trabalhe, trabalhe, trabalhe ...

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Especialista em empreendedorismo, o suíço Ronald Degen, autor best-seller sobre o tema, manda um aviso para os jovens. Quer abrir um negócio? Não espere. O momento é agora

Por Elisa Campos
HSMO suíço Ronald Degen, um dos primeiros a trabalhar com o conceito de empreendedorismo no Brasil, poderia facilmente esconder sua origem estrangeira. Com um português perfeito, o executivo e acadêmico teve desde cedo contato com o mundo dos negócios e com o Brasil. Nascido em Yokohama, no Japão, onde seu pai era proprietário de uma trading, Degen acabaria mudando com sua família para o Brasil, depois de uma breve passagem pela Suíça, após o início da Segunda Guerra Mundial e a ruína dos negócios familiares no Extremo Oriente. Seu pai abriria uma nova empresa aqui, e ele, muitos anos mais tarde, começaria a estudar e a ensinar os conceitos relacionados ao empreeendedorismo nas universidades brasileiras. Em 1980, já como um executivo bem-sucedido da Villares, Degen introduziria na FGV-SP o que alguns consideram o primeiro curso de empreendedorismo do país. Da experiência acadêmica, nasceria o livro O Empreendedor: fundamentos da iniciativa empresarial. Uma das primeiras obras em português a tratar do tema, ela seria publicada pela editora McGraw-Hill em 1989 e se tornaria um best-seller. Atualmente, Degen atua como coordenador de Pós-MBA de Estratégia da HSM Educação.
Paralelamente à vida acadêmica, o engenheiro de formação construiu uma sólida carreira empresarial, tendo sido presidente da Amanco Brasil e Argentina, da CPFL e da Elevadores Schindler do Brasil. Todos esses anos estudando o mundo dos negócios e fazendo parte dele, deram a Degen uma certeza: qualquer um pode se tornar um empreendedor. Para isso basta, segundo ele, conhecer bem determinada área e ter paixão. “Atualmente, todos nós nascemos mais ou menos iguais. O que acaba nos diferenciando são nossas experiências”, diz ele. Mas se todos podem ser empreendedores, isso não significa que não haja um momento na vida em que a situação conspire mais a favor da criação de novos negócios. “As coisas que mais afetam a decisão de se lançar como empreendedor são as obrigações financeiras e familiares. Por isso que eu digo que existe uma janela de oportunidade na universidade. Não é à toa que é de lá que saem as grandes ideias”. Interessado nos conselhos de Degen? Leia a entrevista abaixo.
Qual a importância do empreeendedorismo para a sociedade?
No mundo todo, a máquina que faz girar a economia são novos negócios. Os EUA cresceram através de seus empreendedores. A revolução industrial foi feita por empreendedores. É do empreendedorismo que surge a geração de riqueza, de novos produtos, de novas ideias. Quando dava aulas na FGV, começava o curso dizendo que a desigualdade social fazia do Brasil um país insustentável. Perguntava aos alunos se eles gostariam de ficar milionários. E dizia: pois fiquem, é importante, porque se vocês ficarem milionários vão gerar empregos, riqueza e ajudar a desenvolver o país.

Para ser empreendedor, é preciso ser inovador?
Depende do que você chama de inovador. Vamos pegar o iPod como exemplo. O que o Steve Jobs fez não foi criar uma coisa nova. A grande invenção foi a Sony ter criado o Walkman e o advento da flash memory. Com isso, veio a criação do MP3, que foi uma renovação. O iPod não é nada mais do que um MP3. Existem dois ângulos de inovação: o do sentido e o da tecnologia. O MP3 foi um desenvolvimento na linha da tecnologia. O que o Steve Jobs fez foi um desenvolvimento na linha do sentido. O sentido é a experiência que o produto lhe proporciona. Jobs não inovou na tecnologia. Na realidade, ele inovou na experiência. Ele desenvolveu uma experiência completa, desde a compra na Apple Store ao uso do iTunes. As outras empresas não ofereciam isso. Portanto, não é preciso ser revolucionário para empreender.

Existe uma velha discussão sobre se é possível ensinar alguém a ser empreendedor. O que o senhor acha?
Eu acredito fortemente que sim. Atualmente, nós nascemos mais ou menos iguais. O que acaba nos diferenciando são nossas experiências, a influência que o ambiente tem sobre nós. Quanto mais experiências você tiver, melhor. Meu filho é diretor de criação de uma agência de publicidade. Ele ganha muito bem, tem prêmios e me diz que muito de sua criatividade se deve ao número de experiências que ele viveu. Quando ele era criança, eu o levava duas vezes por ano para viajar o mundo. O fato de ele ter viajado tanto e ter visto tanta coisa ajudou em sua formação.

O que alguém que está pensando em abandonar sua carreira para virar empreendedor deve se perguntar antes de tomar esta decisão? Eu acho que primeiro essa pessoa tem que dominar alguma coisa. Se você quer montar um restaurante, saiba cozinhar, saiba servir. Vá trabalhar na cozinha, vá ser um aprendiz. Se você não dominar nada, não faça isso. Ou se associe a alguém que tenha esse domínio. A sociedade entre o Steve Wozniak [co-fundador da Apple] e o Jobs foi mais ou menos isso. O Wozniak era um gênio, mas não sabia aplicar seu conhecimento em eletrônica para fazer negócios. Se você analisar as grandes empresas bem-sucedidas, vai perceber que raramente elas foram fundadas por uma única pessoa. São sempre dois ou três, como foi o caso de Jobs e Wozniak e da HP [criada por David Packard e Bill Hewlett].

E qual a melhor maneira para conseguir dominar uma área? Bom, se você tem interesse e gosta de alguma coisa tem que se dedicar muito. Eu fiz uma pesquisa anos atrás sobre as boutiques de sucesso dos shoppings. Descobri que a maioria delas foi criada por empresárias que começaram como sacoleiras. Ao mesmo tempo, percebi que muitas das boutiques surgiam porque o marido queria dar o dinheiro para a mulher abrir uma loja, mas fracassavam. Quem tem dinheiro contrata um consultor de moda, que provavelmente é amigo de uma confecção, e põe lá um estoque que não sai. Acaba não funcionando. Mas a sacoleira conhece o mercado, sabe o que vende e do que as mulheres gostam. Ela sabe que uma gordinha não deve usar listras horizontais. E sabe como tem que tratar o cliente. Ou seja, com esse know-how é possível montar um negócio. Se não for por esse caminho, não funciona. Muitas vezes, as pessoas simplesmente decidem que querem montar um negócio. Não vai passar um cavalo selado se você não sabe o que quer. Todos os negócios de sucesso são baseados em um conhecimento que o empresário tem ou numa combinação feliz de conhecimentos suplementares entre sócios.

Qual é a maior dificuldade para se montar hoje um negócio de sucesso? Falta de ideias e de conhecimento. Você sabe como começou a companhia aérea americana JetBlue, fundada pelo David Neeleman [proprietário da Azul no Brasil]? Ele começou trabalhando numa agência de viagem, onde vendia passagens para o Havaí. Para mandar os turistas para lá, ele resolveu organizar voos fretados. De repente, ele percebeu que tinha um volume de passageiros tão grande que valia mais a pena fazer um leasing do que alugar um avião. Daí, surgiu a JetBlue. Quando você tem o conhecimento, você consegue os recursos financeiros necessários para abrir a sua empresa. Mas é preciso se dedicar a fundo.

É mais difícil virar empreendedor no Brasil do que em outros lugares do mundo? Não. Tanto que há mais empreendedores aqui do que nos EUA. O volume absoluto de empreendedores que se gera todo ano no Brasil é superior ao dos EUA. A diferença é que mais de 50% dos empreendedores brasileiros são empreendedores por necessidade. São aqueles que viram empresários, porque precisam dar um jeito de se sustentar. Os demais são empreendedores por oportunidade, que podem se dedicar a algo que gostam, como foi o caso do surgimento da Cacau Show, do Alexandre Costa. Ele começou fazendo trufas aos 17 anos e transformou aquilo num negócio. Agora, sua marca já conta com mais de mil lojas.

Mas existe obviamente uma grande diferença entre os EUA e o Brasil neste aspecto ... Sim, o que acontece é que o que gera um maior efeito multiplicador são os negócios de alto impacto. E eles são raridade dentre os novos negócios criados no Brasil. Nesse ponto, o país é fraco. E por quê? Porque as universidades são fracas, os centros de pesquisa são fracos e os engenheiros são fracos. O Brasil hoje é uma vergonha. Só 10% dos jovens formados nas universidades são engenheiros. Na China, esse número sobe para 40%, que é mais ou menos o padrão mundial. E os cursos de engenharia no Brasil, por falta de verba e laboratório, são fracos, mal quebram o galho. Faltam, portanto, engenheiros de alta capacidade. Como se desenvolve então negócios de alta tecnologia?
Mas é preciso ser engenheiro para montar um grande negócio? Veja bem, infelizmente, a maioria dos negócios de alto impacto tem conteúdo tecnológico. A cidade de Santa Rita do Sapucaí, por exemplo, é uma área de empreendedores. Lá, tem negócio para tudo quanto é lado. Por que isso aconteceu? Uma senhora, que era esposa de um embaixador do Brasil no Japão, encantou-se com o desenvolvimento tecnológico. Quando ela voltou para Santa Rita, ela decidiu fazer alguma coisa pelo Brasil e montou uma escola técnica na cidade. Essa escola técnica permitiu a criação de inúmeros negócios. Hoje, Santa Rita está cheia de pequenas fábricas de eletrônicos.

Existe uma idade ideal para começar a empreender? As coisas que mais afetam a decisão de se lançar como empreendedor são as obrigações financeiras e as obrigações familiares. Quando você sai da universidade, arranja um emprego, casa e tem filhos, você vira escravo do salário. E aí você largar tudo para montar um negócio incerto, tendo que pagar a escola dos filhos .... acabou. Por isso que eu digo que existe uma janela de oportunidade na universidade. Não é à toa que é de lá que saem grandes ideias. A Apple e o Facebook, por exemplo, surgiram no ambiente da faculdade.

Mas não falta aos jovens uma certa maturidade? Vai dizer isso para o pessoal que montou o Facebook. Vai contar isso para o Steve Jobs ou para o Bill Gates. Experiência de vida? Que experiência de vida? Eu vou tentando, vou arriscando. O Facebook começou com uma besteira, com um despeito por causa de uma menina.

Pela sua experiência, quais são as características que os empreendedores bem-sucedidos têm em comum? O Bernard Shaw [dramaturgo irlandês] define para mim muito bem isso. Ele dizia que o homem conformado se adapta ao mundo e o não conformado tenta adaptar o mundo a si. Pronto. Aqueles não conformados são os empreendedores. São as pessoas que têm vontade de realizar. Eles querem ser os melhores. Essa necessidade de realizar é o que distingue as pessoas. Isso vale para tudo. Vale para a natação, basquete, tudo. Para o empreendedorismo, não é diferente. Para ser um bom empreendedor, é preciso ser um apaixonado.

Existe alguma cultura que se destaque mais por formar empreendedores? Infelizmente, a cultura anglo-saxã neste ponto é mais favorável do que a latino-americana. Você já deve ter visto filmes americanos onde as crianças preparam limonada para vender, aprendem a cortar a grama do vizinho para ganhar dinheiro e distribuem jornal. E isso é muito comum lá, mas não é aqui. E sabe por quê? Aí vem o problema da diferença social. Trabalho manual no Brasil é considerado para pobre. Se você distribuir jornal aqui, você vai ganhar muito pouco. Não vale a pena para você ‘sujar suas mãos’. E o que seus amigos iriam falar de você se eles te vissem distribuindo jornal ou se você decidisse trabalhar como sacoleiro? Essa diferença social faz com que a sociedade brasileira não queira ‘sujar as mãos’. E, infelizmente, para montar um negócio é preciso sujar as mãos.

E qual você diria que é o ponto forte dos brasileiros? Os brasileiros são bons chutadores. O que eu quero dizer com isso é que uma certa irresponsabilidade é bom. Os brasileiros arriscam mais. Se você pegar um operário brasileiro, ele está muito mais disposto a assumir riscos. Ele diz vamos tentar. Os alemães, por exemplo, se não conhecem determinados negócios, dizem não conheço, não sei. O brasileiro vai tentar dar um jeitinho. E esse jeitinho muitas vez dá certo.

A vida do empreendedor precisa necessariamente ser sofrida? Sim. Tudo que tem sucesso, desculpe-me, é assim. E não é sofrida a palavra correta. Não aconteceu nunca de você se entusiasmar bastante com alguma coisa e chegar a varar a noite? É o que acontece geralmente com as pessoas bem-sucedidas. Elas se entusiasmam tanto pelo trabalho que se esquecem de almoçar, de jantar etc. Para ser empreendedor, é preciso ter paixão. Esse entusiasmo é fundamental para o sucesso.

Qual é a principal motivação que leva as pessoas a empreenderem? É querer ficar rico, se livrar do patrão ...É a necessidade de realizar. É tão simples quanto isso. Ficar rico muitas vezes é consequência, não é a motivação do empreendedor. O negócio é importante e o dinheiro é parte da equação. Se o empreendedor não for um apaixonado, ou não estiver motivado por alguma coisa, é difícil ele e seu negócio darem certo.

Épocas de crise, como a que estamos vivendo, são boas para começar a empreender? Quando há uma crise econômica, nós temos uma onda de empreendedorismo muito maior. Se as pessoas são despedidas e levam um dinheirinho, elas geralmente vão comprar um táxi, montar algum negócio, etc. Mas são negócios por necessidade. Agora, de repente, o cara se descobre um bom empreendedor e o negócio por necessidade vira por oportunidade.

Não existe chefe melhor que eu...

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Mesmo que uma pesquisinha qualquer venha dizer que os narcisistas não sabem liderar

Por Márcio Ferrari
  Getty Images
É raro alguém gostar de ter amigos narcisistas. Eles geralmente são considerados egoístas, manipuladores, vaidosos e autocentrados. No entanto, quando integram grupos, tendem a ser vistos como bons líderes e acabam conduzidos a cargos de chefia. Um estudo da Universidade de Amsterdã comprovou essa tendência – mas também concluiu que a percepção é equivocada. Os narcisistas não dão bons chefes.
Os pesquisadores convocaram 150 pessoas, separadas em três grupos e encarregadas de selecionar candidatos para uma vaga. As informações sobre eles foram distribuídas desigualmente entre os membros dos grupos. Depois das escolhas, os participantes da seleção responderam a questionários de avaliação sobre os colegas.
A conclusão dupla foi que os narcisistas receberam as melhores notas de seus pares, mas também selecionaram os piores candidatos, simplesmente porque não compartilham informações, prejudicando o trabalho em grupo. Segundo a coordenadora do experimento, a psicóloga Barbara Nevicka, “os narcisistas inibem a comunicação porque agem de modo isolado e autoritário”.